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Acolhimento e a prevenção ao HIV para a população LGBTQIAP+ de São Paulo: o caso do Centro de Referência e Defesa da Diversidade Brunna Valin

Como é feito o acolhimento da juventude que busca prevenção e tratamento e tratamento do HIV/aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)? Essa e outras perguntas estão no centro dos debates da Agência Pra Brilhar. Para entender como funciona essa rede de serviços, fomos conhecer a estrutura do Centro de Referência e Defesa da Diversidade Brunna Valin.

Por Demetria Lima Santos, Ewerton Vicente de Melo Souza e Gustavo Mesquita Ribeiro, jovens participantes da primeira turma da Agência Educomunicativa Pra Brilhar

Durante a entrevista que realizamos com Eduardo Barbosa, gerente do Centro de Referência e Defesa da Diversidade Brunna Valin, perguntamos sobre o histórico desse centro de acolhimento que é uma referência na região central de São Paulo.

Eduardo nos contou que o CRD surgiu em 1998, através de iniciativa do Grupo Pela Vidda SP, que percebeu a necessidade de trabalhar a prevenção ao HIV/aids. O Grupo Pela Vidda SP tem 33 anos de existência, e surgiu exatamente da necessidade de enfrentar a epidemia – de aids e de estigmas – através do acolhimento.

Eduardo relatou que há cerca de 12 anos começou a surgir uma percepção, por parte dos movimentos sociais, de que não adiantava somente ir às ruas para realizar entrega de insumos (preservativos, gel lubrificante, entre outros), pois a população LGBTQIAP+ necessitava de ações maiores do que somente distribuição desses kits.  Percebeu-se a necessidade de se trabalhar a questão da desigualdade social – como o desemprego, ausência de moradia, evasão escolar, entre outras questões – pois as condições de vulnerabilidade social impedem a execução de um plano de prevenção ao HIV.

Segundo ele, a própria equipe do CRD tem até os dias de hoje uma percepção parecida sobre as necessidades urgentes dos usuários: a urgência na ampliação de renda, reinserção ao mercado de trabalho, construção e fortalecimento da autonomia dos usuários do Centro.

Uma das estratégias para fazer com que pessoas usuárias do CRD tenham acesso aos serviços de saúde passa pela descentralização. Na entrevista, Eduardo contou que o espaço desenvolve atividades externas na rua, em diferentes bairros, e que a decisão de ir para fora da sede do CRD se deu devido à escuta entre pares. Essas atividades são voltadas principalmente para a população travesti e pessoas transexuais, que em sua maioria trabalham como profissionais do sexo. A partir dessa realidade, o serviço busca entender as necessidades dessa população e ofertar possibilidades. 

Na sede do CRD Brunna Valin, oficinas são desenvolvidas a partir das demandas apresentadas pelos usuários, que são apresentadas diante das conversas dos usuários com a equipe do CRD (composta por psicólogos, assistentes sociais, educadores, entre outros profissionais). A própria equipe tem percepção das necessidades urgentes dos usuários, como a ampliação de renda, reinserção ao mercado de trabalho, construção e fortalecimento da autonomia dos usuários.

Para além das questões de prevenção ao HIV/aids, Eduardo Barbosa relata que, para promover a construção e fortalecimento da autonomia desta população, o CRD oferta cursos de: Fotografia, Alfabetização, Tranças, Espanhol, Design de Joias e Empreendedorismo. 

Legalmente, o CRD não pode realizar atendimento para menores de 18 anos. Quando acontece alguma busca por menores de 18 anos, o serviço faz a escuta ativa, acolhe e, se possível, realiza o encaminhamento da demanda apresentada. Mas o CRD possui estratégias de comunicação que dialogam com essa população jovem por meio da internet, com produção de conteúdo divulgado através do Instagram e do Facebook – redes nas quais o Centro realiza campanhas diversas voltadas a esse público. 

A equipe do Centro de Defesa da Diversidade já produziu e distribui cartilhas de prevenção combinada voltadas para a população jovem LGBTQIAP+ da cidade de São Paulo. No entanto, ainda é uma dificuldade fazer com que outros jovens acessem esses materiais, pois existe uma necessidade de “sair da bolha e ir para além desses grupos.

Especificamente sobre o acolhimento da população LGBTQIAP+ da cidade, Eduardo nos contou que o CRD não atende somente pessoas que residam na região central – recebe pessoas de toda a cidade, até mesmo de fora do estado. Segundo dados do próprio serviço, cerca de 70% da população que busca atendimento chega ao CRD Brunna Valin por conta de indicações de outras pessoas. Apesar dos bons números, ainda há dificuldades para que as políticas públicas de fato aconteçam. Eduardo exemplifica sobre a questão da moradia: atualmente, a maior dificuldade do CRD é articular moradia digna para usuários que estão em situação de rua.

Por ser uma instituição meio, ou seja, que realiza encaminhamento para outros serviços, eles também dependem de outros órgãos e instituições. Esse encaminhamento pressupõe a inovação constante da comunicação entre aparelhos, e evidencia a necessidade cada vez maior de dar capilaridade aos serviços de atenção especializada para toda a comunidade. Então, essa questão de como acolher e abrigar pessoas que passam por violações de direitos permanece.

Confira mais informações sobre o CRD Brunna Valin no site e nas redes sociais.